quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Medicalização da Existência

Medicalização da existência

                               Letícia de Fátima Macohin
Graduanda de Biomedicina UFPR

                Certa vez li um artigo científico interessante sobre tecnologias de saúde.  Tecnologias de saúde são as ações/ferramentas utilizadas na área da saúde. Elas podem ser “tecnologias duras” que são os conhecimentos que permitem o manuseio de equipamentos, o acesso a exames e toda a parte técnica; “tecnologias leve-duras”, que são aquelas tecnologias empregadas com o paciente, porém baseadas em conhecimentos e saberes já definidos (em livros, artigos científicos, cursos), por exemplo: sintomas são relatados pelo paciente e a partir desses conhecimentos, já existentes, o profissional chega a um diagnóstico/conclusão. E as “tecnologias leves” que são aquelas baseadas em uma relação mais próxima entre profissional e paciente, envolvendo diálogo, interesse e confiança, melhorando, assim, o raciocínio do profissional e possibilitando a real inclusão do paciente no processo. (MERHY e FEUERWERKER, 2009).



                Com o desenvolvimento da ciência e da medicina, o corpo biológico foi considerado um objeto de estudo e trabalho no qual foi possível definir o que é normal e o que é patológico. Portanto, qualquer circunstância diferente do normal começou a ser tratada como doença. Esse foco na saúde-doença deixa de lado elementos importantes para qualidade de vida das pessoas como: saúde mental, espiritual, social, entre outras. (MERHY e FEUERWERKER, 2009).

                Bem, depois de ler esse artigo comecei a refletir quais tecnologias estão sendo empregadas atualmente no Brasil. Infelizmente, pelo que vemos na mídia e pelo que presenciamos, a predominância de tecnologias duras e leve-duras é facilmente notada. Não que não sejam necessárias, o conhecimento do profissional é a base do seu trabalho, porém como este trabalho envolve pessoas, ele requer um lado humano e consequentemente uma relação. Essa relação  deveria ser uma troca de aprendizados e experiências entre os dois envolvidos. Porém nem sempre é o que acontece, pelo contrário, dificilmente o paciente se sente capaz de interferir na sua própria saúde (em suas várias formas).




                Todos esses processos levam a medicalização da existência, pois todo o sofrimento humano é observado como uma patologia do corpo biológico e deve ser tratado ou curado e não discutido ou trabalhado. Espera-se que a interação, envolvendo escuta e diálogo, entre profissionais e usuários enriqueça as ações na área da saúde, tanto para os profissionais que terão uma visão mais humanizada buscando o cuidado dos seus pacientes, quanto para os usuários que poderão ter um papel mais ativo em sua saúde.



Referências
Artigo base: MERHY, Emerson E.; FEUERWERKER,  Laura C. M. Novo olhar sobre as tecnologias de saúde: uma necessidade contemporânea.  Leituras de novas tecnologias e saúde. São Cristovão: Ed. UFS,2009.
Figura 1: http://blogs.einstein.yu.edu/doctors-patients-and-bad-news-why-these-conversations-matter-so-much-part-1-of-2/dr-female-patient/
Figura 2: http://joyfulathlete.com/2012/07/06/adapt-and-survive-the-happy-runners-mantra/
Figura 3 : http://www.thehealthymind.com/2012/11/19/stress-management-discussions-are-rare-in-primare-care-setting/

               


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