Medicalização da existência
Letícia de Fátima Macohin
Graduanda de
Biomedicina UFPR
Certa
vez li um artigo científico interessante sobre tecnologias de saúde. Tecnologias de saúde são as ações/ferramentas
utilizadas na área da saúde. Elas podem ser “tecnologias duras” que são os
conhecimentos que permitem o manuseio de equipamentos, o acesso a exames e toda
a parte técnica; “tecnologias leve-duras”, que são aquelas tecnologias
empregadas com o paciente, porém baseadas em conhecimentos e saberes já definidos
(em livros, artigos científicos, cursos), por exemplo: sintomas são relatados
pelo paciente e a partir desses conhecimentos, já existentes, o profissional
chega a um diagnóstico/conclusão. E as “tecnologias
leves” que são aquelas baseadas em uma relação mais próxima entre
profissional e paciente, envolvendo diálogo, interesse e confiança, melhorando,
assim, o raciocínio do profissional e possibilitando a real inclusão do paciente no processo. (MERHY e FEUERWERKER,
2009).
Com
o desenvolvimento da ciência e da medicina, o corpo biológico foi considerado
um objeto de estudo e trabalho no qual foi possível definir o que é normal e o
que é patológico. Portanto, qualquer circunstância diferente do normal começou
a ser tratada como doença. Esse foco na saúde-doença deixa de lado elementos
importantes para qualidade de vida das pessoas como: saúde mental, espiritual,
social, entre outras. (MERHY e FEUERWERKER, 2009).
Bem,
depois de ler esse artigo comecei a refletir quais tecnologias estão sendo
empregadas atualmente no Brasil. Infelizmente, pelo que vemos na mídia e pelo
que presenciamos, a predominância de tecnologias duras e leve-duras é
facilmente notada. Não que não sejam necessárias, o conhecimento do
profissional é a base do seu trabalho, porém como este trabalho envolve
pessoas, ele requer um lado humano e consequentemente uma relação. Essa
relação deveria ser uma troca de
aprendizados e experiências entre os dois envolvidos. Porém nem sempre é o que
acontece, pelo contrário, dificilmente o paciente se sente capaz de interferir
na sua própria saúde (em suas várias formas).
Todos
esses processos levam a medicalização da existência, pois todo o sofrimento
humano é observado como uma patologia do corpo biológico e deve ser tratado ou
curado e não discutido ou trabalhado. Espera-se que a interação, envolvendo
escuta e diálogo, entre profissionais e usuários enriqueça as ações na área da
saúde, tanto para os profissionais que terão uma visão mais humanizada buscando
o cuidado dos seus pacientes, quanto para os usuários que poderão ter um papel
mais ativo em sua saúde.
Referências
Artigo base: MERHY, Emerson E.; FEUERWERKER, Laura C. M. Novo olhar sobre as tecnologias
de saúde: uma necessidade contemporânea.
Leituras de novas tecnologias e
saúde. São Cristovão: Ed. UFS,2009.
Figura 1:
http://blogs.einstein.yu.edu/doctors-patients-and-bad-news-why-these-conversations-matter-so-much-part-1-of-2/dr-female-patient/
Figura 2:
http://joyfulathlete.com/2012/07/06/adapt-and-survive-the-happy-runners-mantra/
Figura 3 :
http://www.thehealthymind.com/2012/11/19/stress-management-discussions-are-rare-in-primare-care-setting/
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