sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Entrevistado do mês: Dona Tereza

A preservação da essência

            Adriana Carvalho – Graduanda em Gestão Pública /UFPR
Fabiana Sá Regis  – Graduanda em Farmácia/UFPR
           
O que seria de nós sem os velhos conhecimentos passados de geração em geração?
            É praticamente impossível encontrar alguém que não conheça um chá bom para alguma dor ou incômodo, ou que nunca tenha escutado sobre alguma simpatia boa para curar algo, mesmo que seja um soluço.

           O uso de plantas e rituais para cura faz parte das práticas de medicina popular. Em alguns países, como China e Índia, práticas milenares de medicina convivem com as práticas da dita “medicina moderna”. A Organização Mundial da Saúde reconhece muitas das práticas tradicionais, entendendo-as como “o somatório total de conhecimentos, habilidades e práticas, baseadas em teorias, crenças ou experiências das populações locais em diferentes culturas, sejam estas explicáveis ou não, utilizadas na manutenção da saúde, bem como na prevenção, diagnóstico, melhoria ou tratamento de doenças físicas e mentais”.[i]  

            De acordo com Barbosa et al., a medicina popular no Brasil equivale aos conhecimentos  e práticas indígenas e as trazidas pelos colonizadores e pelas populações africanas, e foram incorporados pela população, sendo respeitados no cotidiano, cristalizados nos hábitos, nas tradições e costumes. Seu uso não se restringe à falta de conhecimento ou a classes sociais especificas, e seu uso não se justificaria apenas pela crença na ação terapêutica dos recursos utilizados.[ii]

Sobre este tema, apresentamos o relato da estória de vida da dona Tereza Rodriguês Carvalho em sua carreira espiritual, na entrevista feita por Adriana Carvalho. Dona Tereza é uma benzedeira muito conhecida no município de Araucária-PR, analfabeta, de descendência indígena, com 71 anos, e muitos destes de experiência nas práticas de benzer e conhecimento de plantas, participando inclusive de um livro, “Saberes de Araucária”, que compõe um dos volumes sobre a história do município.


Nesta entrevista, ela compartilha um pouco do que viveu em sua humilde jornada. Neste livro a curta estória sobre como era ser parteira e o que ela fazia.


Dona Tereza

Dona Tereza foi parteira durante 20 anos e benzedeira desde os 25 anos. Desde jovem usa as ervas medicinais e orações para benzer quem a procura. A cura vem através da fé, dos remédios e dias de idas à casa da dona Tereza para acontecer os efeitos desejados, ou seja, se livrar da doença. Mas como uma pessoa percebe que se livrou de algo que está incomodando? Muitas vezes, o problema está relacionado a outros e algumas pessoas buscam a casa da dona Tereza não para somente se benzer e sair com os remédios em mãos, mas também para desabafar e receber ajuda espiritual. Dona Tereza relata os costumes de muitos que a procuram:

 "tem pessoas que chegam, sentam no sofá e simplesmente começam a chorar, aí eu pego o meu rosário ou um copo de água com arruda, peço para fazer o sinal da cruz e começo a rezar, depois pego uma água com açúcar para acalmar os nervos e a pessoa desabafa o que mais esta a incomodando".





Dona Tereza aprendeu com a sua avó materna a procurar nas ervas e na fé como um modo de amenizar a dor, e baseia-se na natureza e nas crenças populares:
"a mesma porta que você entrou deve sair, porque senão corre o risco de não voltar mais", "São Brás cura quem engasgou".

            Quando alguém chega na casa de Dona Tereza, é acolhido com atenção, cafezinho e bolacha caseira. É por esse e outros motivos que a residência vive cheia de pessoas. Dona Tereza não cobra pelo benzimento: "de graça Deus me deu e de graça eu benzo" relata dona Tereza. A procura maior é por parte de mães que querem benzer seus bebês – cobreiro, quebrante, mau-olhado, susto, vento virado, doença de míngua,[iii] cólicas que não se curam com medicamentos, infecção no ouvido, diarreia, não conseguem falar ou andar–, e mulheres para evitar depressão pós-parto, rachaduras no seio, "quebrou a dieta", dores na cabeça e corpo, para menstruar, banhos de sal grosso e ervas, encosto. Homens costumam ir em caso de urgência (espinhela caída, dor na coluna, dores fortes na cabeça, torcicolo, caxumba, ardência nos olhos, pés inchados) [iv]. Há muita procura por garrafadas para curar da impotência sexual em ambos os sexos, infecções vaginais, dores estomacais e alívio da ansiedade e estresse.[v]

 Apesar de todos estes ensinamentos, a dona Tereza não dispensa as idas ao médico "é importante sim procurar a ajuda médica em muitos casos, fazer exames de rotinas porque as ervas medicinais servem para auxiliar na busca pela cura".

O segredo da cura está, na opinião de dona Tereza, na crença e na fé, tudo que é feito com fé será realizado de uma forma ou de outra. Independente da religião, a procura por Deus deve ser constante: "evangélicos também vem aqui quando a coisa aperta, acendo minhas velas e não faço mal a ninguém, peço para Deus me ajudar a rezar e meus santos fazem parte do meu quarto". A busca para aliviar a dor e resolver seus problemas está em muitos dos casos que chegam até a dona Tereza: "desde criança a idosos falam que venham só para benzer e tirar a angústia de dentro de si, sendo assim pergunto se dói algo e faço minhas orações".


Muitas vezes, a cura não é só carnal, mas também espiritual, a luta no dia a dia trava uma batalha entre realmente estar bem e aparentemente permanecer bem aos olhos de quem a vê. A família é um apoio para os momentos de crise. A prática de benzimento pode ser à distância através do nome ou foto e pode ser considerado como um auxiliar na prática terapêutica.






[i] Traditional Medicine: Definitions. Disponível em: <http://www.who.int/medicines/areas/traditional/definitions/en/> acesso em 05.09.2014
[ii] BARBOSA, M. A., SIQUEIRA, K. M., BRASIL, V.V., BEZERRA, A.L.Q. Crenças populares e recursos alternativos como práticas de saúde. R. Enferm. UERJ, 2004, 12, p. 38-43. Disponível em: <http://www.facenf.uerj.br/v12n1/v12n1a06.pdf> Acesso em 06.09.2014.
[iii] Cobreiro: seriam infecções na pele.
Doença de míngua: doença associada à desnutrição.
Quebrante: Quando uma pessoa tem inveja da beleza ou de algo que a pessoa tem. Pode também referir-se a um cansaço.
Vento virado: quando a pessoa se expõe no ambiente, pega friagem, e não fica bem.
[iv] Quebrar a dieta= após ter filho, a mulher fica fragilizada e qualquer momento de nervosismo altera as funções do corpo, causando dores de cabeça forte e mal estar.
Espinhela caída= seria um mau jeito nas costelas.
[v] Aqui tentamos esclarecer alguns dos termos utilizados por dona Tereza, que são de conhecimento popular, mas que nem sempre o significado é bem claro. No entanto, cada benzedeira pode utilizar um determinado termo conforme a sua interpretação. Além disso, existem as diferenças linguísticas regionais, que também atribuem diferentes significados a um mesmo termo. 

24 comentários:

  1. Respostas
    1. Gostaria de saber o endereço dela pois os dois telefones indicados não dão certo

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  2. Podem me passar o telefone ou endereço desta senhora benzedeira? lebueno10@gmail.com

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  3. pessoal, minha mãe atende todos os dias das 09h às 18h, telefone para contato 41 36422361, ela não cobra pelos benzimentos.

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  4. Bom dia gostaríamos telefona da dona ana Alguém sabe me.informar já liguei nos dois que foram citados a cima mas não atendeu

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  5. Gostaria de saber se ela atende ainda?

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  6. Boa noite
    Novo contato da Dona Tereza
    É (42) 99854-0147

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  7. Dona Tereza benzedeira
    Mora qual bairro de Araucária

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  8. Ela ainda benze ? Gostaria de saber o endereço

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  9. Não benze mais ela faleceu em 2020

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