Encenando a realidade

Chayanne Federhen 

Graduanda em Farmácia

Você já ouviu falar da utilização do teatro com fins terapêuticos? Se a sua resposta foi “não”, saiba que essa é uma possibilidade. Existem diferentes métodos, teorias e fazeres teatrais que permitem que a dramatização seja empregada com objetivos terapêuticos. O Psicodrama é um exemplo. E é sobre ele que vamos falar um pouquinho hoje. 

Ele foi desenvolvido pelo médico Jacob Levy Moreno na década de 1920. Trata-se de um método de intervenção nas relações, sejam elas interpessoais ou intrapessoais, podendo também ser usado como técnica psicoterápica. Suas raízes estão no Teatro Espontâneo – também criado por Moreno – cuja proposta era revolucionar o modo de fazer teatro, eliminando roteiros e aproximando o público da cena. A ideia era tornar o fazer teatral criativo e espontâneo, transformar o ator em ator-autor.

Entre os atores que participavam do Teatro da Espontaneidade, Moreno observou mudanças comportamentais positivas, mais especificamente no caso Bárbara-Jorge – considerado o ponto de partida para a criação do Psicodrama. Bárbara e Jorge se conheceram por meio do teatro e, tempo depois, casaram-se. Ela sempre dramatizava papéis doces e meigos. Porém, em suas relações pessoais era extremamente agressiva e violenta. Jorge relata o fato a Moreno que passa a propor papéis mais agressivos para que Bárbara os encene. Com as dramatizações e reflexões decorrentes dessas vivências, ela muda seu comportamento, tornando-se mais tranquila e melhorando a qualidade de suas relações. Com essa experiência, Moreno começa a estudar os efeitos terapêuticos do teatro e desenvolve o Psicodrama. Na esfera terapêutica, Moreno utilizava o Teatro Espontâneo e o Psicodrama com seus pacientes psiquiátricos. 

Porém, sua aplicabilidade é ampla, não se restringindo ao contexto psicoterápico. Pode ser utilizado para trabalhar diferentes situações e temáticas – sociais, culturais, educacionais, profissionais e outras. O repertório de encenação é proveniente do que os indivíduos do grupo apresentem naquele momento, a partir da participação livre de todos. Após a dramatização, todos comentam a vivência, compartilhando as percepções pessoais e compreendendo a situação e os aspectos a ela relacionados. A dramatização das histórias apresentadas estimula um novo olhar sobre a realidade e sobre emoções e sentimentos envolvidos a ela, possibilitando a ressignificação dos mesmos. O Psicodrama propõe o autoconhecimento, o reconhecimento de sua própria história, a compreensão de si mesmo e do outro, a ampliação das possibilidades para a resolução de conflitos. Busca estimular a criatividade e a espontaneidade, dessa forma amplia as possibilidades de ação de cada sujeito sobre sua própria vida. Promove maior autonomia e bem-estar. 

Já sabemos que emoções e sentimentos têm forte influência sobre a nossa saúde. O teatro pode ser uma ótima maneira de trabalhar os seus e contribuir beneficamente para melhorar sua saúde e qualidade de vida. Que tal experimentar?

Referências: 

GONÇALVES, S.C.; WOLFF, J.R.; ALMEIDA, W.C. Lições de Psicodrama: Introdução ao pensamento de J. L. Moreno. São Paulo: Ágora, 1988.

 

OLIVEIRA, E.C.S.; ARAÚJO, M.F. Aproximações do Teatro do Oprimido com a Psicologia e o Psicodrama. Psicologia: Ciência e Profissão, São Paulo, v.32, n.2, p. 340-355, 2012. 

Federação Brasileira de Psicodrama. O que é Psicodrama? Disponível em: http://www.febrap.org.br/psicodrama/Default.aspx?idm=20. Acesso em: 02/11/2014. 

Imagens: 

Imagem 1: http://tallerteatroespontaneosantiago2006.blogspot.com.br/

Imagem 2: http://psicologosepsicologias.files.wordpress.com/2013/10/psicodrama3.jpg

Imagem 3: http://carrocacultural.com.br/ribeirao-cena-abre-60-vagas-curso-gratuito-teatro/