sábado, 16 de maio de 2015

A Arte de Contar Histórias

Letícia Kurzydlovski, Contadora de Histórias e Graduanda Farmácia.

Sorrir, rir, sentir-se em paz, gargalhar, chorar de alegria, cantar e até expulsar a dor e sentimentos ruins são ações que, sem dúvidas, melhoram o humor e trazem bem-estar a uma pessoa. Agir com amor ao próximo, doar-lhe seu tempo e sua atenção são atitudes que não custam dinheiro e que provocam todas as ações citadas acima. Simplificadamente, podemos definir assim a atividade a ser cumprida por um contador de histórias.
A princípio qualquer pessoa que goste de contato humano pode ser um contador de histórias. Há todo um treinamento especial para que habilidades de socialização, expressão, integração e improvisação sejam desenvolvidas trazendo a magia das histórias para a realidade.
Assim, como acontece no Instituto História Viva (IHV) e em outras ONG’s o treinamento é realizado em forma de curso, onde são realizadas palestras, dinâmicas, jogos de improviso que trabalham a interação entre futuros contadores. Além de instruções importantes sobre o comportamento emocional e a expressão corporal propriamente dita. É necessário aprender controlar as reações emotivas, como o choro, ao ouvir histórias tristes e fortes de respectivos idosos, saber lidar com situações delicadas de pacientes internados e respeitar os pedidos de quem não deseja ouvir histórias.


Uma das dinâmicas aplicadas durante o curso se revela muito simples e importante, a qual ocorre essencialmente ao caminhar na sala e olhar nos olhos uns dos outros. No primeiro momento, percebe-se até mesmo dificuldade em executá-la, pois não é de costume olhar no olho do próximo, e justifica-se então a importância dessa tarefa quando, através do olhar, transmitimos mensagens de gentileza e afeto combinadas a um sorriso, que podem transformar o dia de uma pessoa.

Depois do período de treinamento, tudo o que foi aprendido deve ser aplicado na prática. O público alvo vai de crianças em casas lares ou inseridas em projetos sociais que tem em suma alguma fragilidade devido às condições, pessoas de todas as idades que estão internadas em hospitais, devido a alguma enfermidade e que também se encontram em estágio de fragilidade e, ainda, idosos que moram em casas de repouso.
O objetivo é trazer melhora ao humor e consequentemente melhora no processo de cura do paciente, ou ainda, dar-lhe a atenção de que precisa através de contos e histórias, que quando não trazem mensagem de esperança e superação, dão aos pacientes uma dose de humor os fazendo rir e deixando de lado a situação delicada na qual estão inseridos.
Existe um projeto criado pelo próprio IHV onde é feita uma visita aos idosos, onde capturamos histórias reais de vida deles, em outro momento essas histórias são encantadas, de modo a se tornar um conto infantil, essas histórias encantadas são levadas a crianças em hospitais ou casas lares, após ouvirem a história as crianças fazem uma arte (geralmente, desenho ou poesia) relacionada ao que lhes foi contado, a arte e a história encantada retornam ao idoso, fazendo uma incrível ponte entre gerações e nos gratificando com a maravilhosa reação dos idosos envolvidos.
Passamos por experiências onde as próprias enfermeiras nos agradeceram por nosso trabalho. Em uma das visitas, por exemplo, no hospital entramos em um quarto onde havia um menino choroso, triste e abatido já visivelmente cansado com a situação na qual estava. Ele foi resistente em querer ouvir histórias, então apenas conversávamos e ele se escondia embaixo das cobertas. Após muitas tentativas conseguimos aos poucos fazer algumas brincadeiras, pegando um boneco do homem-aranha que ele estava segurando. Poucos minutos depois o garoto estava rindo e conversando, as enfermeiras nos disseram o quanto era difícil fazê-lo parar de chorar e ficaram admiradas com o que fizemos.
Ao conversar com os idosos sentimos o quanto eles precisam contar sua histórias, alguns nos revelam o quanto gostam das nossas atividades e agradecem por doarmos nosso tempo e nosso carinho, porque por mais que o lar disponha de pessoas cuidadosas que lhes dão atenção eles sentem falta de carinho e um vínculo maior com pessoas dispostas a ouvi-los.

Assim, ser um contador de história não cura uma pessoa de doenças, mas cura do mau humor, da falta de esperança, do tédio e do desânimo. Isso vale pra ambas as partes envolvidas, é uma terapia recíproca onde o doador do amor recebe muito amor de volta. Fazer pessoas sorrirem em meio à dor, fragilidade e cansaço nos faz sempre pensar em como gestos tão simples podem fazer tanta diferença. Isso nos motiva e nos impulsiona a levar a ideia adiante e fazer cada vez mais pessoas sorrirem.



A seguir um vídeo de apresentação do Instituto História Viva:



Em sequência, um vídeo do Seu Jura, uma figura querida da casa de repouso Recanto do Tarumã, que gentilmente faz um depoimento sobre o que o instituto e o projeto do História Viva significam pra ele.



Fotos: Formatura 24ª turma de contadores de histórias do Instituto História Viva.¹ Equipe de contadores do Hospital Menino Deus da qual participo - com Carmem Luiza, Bruna Stival, Gilmar Silva, Dalinni Oliveira.²

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